Charme Intelectual e o Tribunal de Nuremberg

A figura é clássica: sapato bico fino e salto agulha, maquiagem e pranchinhas as oito da matina, três quilos de pó (nada compacto) em cada banda de bochecha e batom escarlate. Roupas com bem pouco pano, até mesmo no inverno. Sonho: ter bulimia, mesmo sendo magérrima!
Eu adoro a figura. Tem um coração grandão e é divertidíssima. Dia desses no intervalo da explicação da famigerada Lei de Tóxicos, saiu maravilhada:
- Fê, tenho que aprender tudinho dessa lei .. - Fiquei feliz pela empolgação da figura, só que ela completa: - Eu tenho um monte amigo maconheiro, que vai adorar saber dessas coisas ...

A figura é esquisita e tudo o mais ... não chega a ser fútil, mas tá ali ó ... na beirinha. Só que é adorável também. A-do-rá-vel!! A mulherada do curso despeja críticas e venenos sobre ela, regadas com algumas denominações, digamos, “não tão nobres”. Se eu tivesse que definir a figura, diria, na lata: Adorável.

Chegou esses dias e foi sentar do meu lado e disparou:
- Fê, eu tava lendo um livro sobre o Tribunal de Nuremberg, e achei o máximo...
Quem tava por perto, tava de boca aberta do começo da frase: lendo um livro!!!! Eu:
- Que legal, figura! O Tribunal de Nuremberg foi um lance muito doido no Direito Penal Internacional ...
- Ai, Fê, mas sabe porque que eu tô me “forçando” a ler esse livro ...
- Porque?
- Minha mãe me falou que eu não tenho “charme intelectual”...
Interrompi a frase no meio:
- Charme intelectual ?
- É, Fê, charme intelectual... Minha mãe disse que eu tenho que ter conversas mais inteligentes com as pessoas, que eu sou muito vazia, sem conteúdo .. Daí, tô lendo umas coisas ... “tipo assim” ... e depois vou querer saber tudo de mitologia grega ...

Céus! A figura que vá devagar! Não vá misturando gregos, troianos e nazistas. Imagina a doideira que vai ser?
E, por falar em tribunal, quem somos nós pra julgar, né?

Agora, a expressão e o significado de “charme intelectual” é tudo!
Viva a mãe da figura!