Mãe .. abstrai!

Saindo de casa, toca o telefone vou atender e desliga. Droga! Nem olho o bina e saio, já atrasada....ÍSSIMA, por sinal!
Vibra o celular na bolsa, tem sinal! Atendo:

- Minha filha do céu .. não escreve mais isso não ...
- Que foi, mãe?
- Fiquei muito triste com o que você escreveu .. aonde já se viu falar isso, minha filha?
- Mãe!!!! Diz o quequi foi?
- Não! Fernanda, filha minha, não escreve essas coisas mais não!

Cabeça da Fernanda pensando: Inda ontem tava fazendo a Contestação de um divórcio, usei alguns "despautérios", palavras feias (na opinião da mãe, que é advogada!), mas tudo entre aspas, já que foram palavras ditas pelas partes, do tipo “corno” e daí pra baixo ... mas advogado tem, deve e pode utilizar as palavras ditas pelo cliente, que aliás são sempre ou, quase sempre, a melhor forma de defesa, apesar de minha mãe viver pedindo pra colocar “marido traído” (trabalhamos juntas no mesmo escritório!) .. será isso?

- Minha filha! Como é que tu dizes que tu és impossível?
- Como é que é? – dentro do elevador, entrando em pânico com tamanha indignação do outro lado da linha.
- É!! Tá aqui no e-mail que tu me mandou .. aqui no finalzinho ... “Todo mundo é possível, só eu impossível”
- Ahhhhh, tá!!! – Entendendo e olhando o ônibus que vinha vindo na minha direção – só agora que a senhora viu!? (assinatura do meu e-mail é a mesma frase do cabeçalho do blog)

Não ia dar tempo de explicar o que queria dizer realmente e pegar aquele ônibus! Dizer pra mamy que essa frase era uma brincadeira com o lema do Fórum Social Mundial “Um outro mundo é possível”. Que queria dizer outras coisas .. sei lá, que não estava negando a minha possibilidade por excelência (imagino que ela pensaria: em ser Excelência!), mas reafirmando a minha singularidade e extravagância (ui, ui!), era uma forma de destacar a minha diferença entre diversas possibilidades .. enfim, um papo pop-filosofia demais pro gosto de Dona Jura!

Tentando simplificar, dou uma barrigada na situação e esclareço (?) simplesmente negando a autoria (apesar da apropriação):
- Mãe, a frase é do Drumonnd! – Digo isso como se fosse a melhor argumentação. Incontestável! Erguendo o braço, naquele mantra “onnnnnibus, pára onnnibus”.

- Não me interessa de quem é! - Brada ela, como se o poeta mineiro não tivesse respaldo nenhum! - Só não quero que seja tua. Minha filha, tu és a coisa mais possível do mundo e patati patatá ... – coisas de mãe para levantar a auto-estima. Não era o momento .. e nem tinha porquê!

- Mãe, a frase não quer dizer isso não! Escuta só ... – Nem quis esperar eu terminar e continuava o discurso que me elegeria a melhor filha do Brasil a qualquer preço!

- Mãe ... mãe .. mãe ... – tentava eu, sem sucesso, interromper minha progenitora entre os melhores elogios que poderia escutar na terça feira de manhã ....

De repente ela respirou, e eu aproveitei:
- Mãe! Abstrai! Na hora do almoço te explico ..Abstrai! Beijo! Tchau!

Eita! Na hora do almoço ela tava lá .. com cara de mãe contrariada ... só que me dando razão. Com a dita contestação de palavras cabeludas nas mãos...
- Tens razão! Tu és impossível mesmo!!!!!! Nem precisa abstrair pra ver isso!